sábado, 8 de dezembro de 2012

Grêmio 2x1 Hamburgo - Inauguração da Arena


O Grêmio aproveitou as tintas com as quais escrevera a sua página mais gloriosa para, 29 anos depois, gravar um dos momentos mais emblemáticos de 109 anos de existência. Repetiu, neste 8 de dezembro de 2012, o rival do Mundial de 1983, para o amistoso inaugural da Arena, o novo estádio do clube. O roteiro soou perfeito, como se tudo tivesse sido programado espartanamente, numa continuidade da apoteótica cerimônia de abertura, encerrada minutos antes, no gramado recém-nascido.

O primeiro gol foi tricolor, saiu cedo, por um centroavante goleador e carismático. Com direito inclusive à provocação sobre o maior rival. Marcelo Grohe até foi vazado por Westermann, mas e daí? Marcelo Moreno repetiu Renato Gaúcho e emplacou o 2 a 1, aos 43 minutos. Assim, o Grêmio descortinou o seu futuro com uma vitória do tamanho do mundo, sobre o mesmo Hamburgo, freguês em dose dupla. O 8 de dezembro de 2012 deixa de ser uma simples data. Vira o símbolo de uma nova fase. Um novo começo. A ‘era Arena’ está aí. O sonho é realidade.
André Lima marca gol na inauguração da Arena do Grêmio (Foto: Wesley Santos/Divulgação, Grêmio)André Lima marca gol na inauguração da Arena do Grêmio (Foto: Wesley Santos/Divulgação, Grêmio)
A história do primeiro time do Grêmio a jogar na Arena começou às 22h32, em ingresso em fila, lado a lado com os alemães. Os gringos, aliás, estavam muito mais em clima de festa do que os próprios anfitriões. Cansados após jogar na sexta-feira e encarar uma viagem de 16 horas, o grupo do Hamburgo curtiu, na tarde tórrida de Porto Alegre, piscina e muito sol num hotel de luxo. No time de Vanderlei Luxemburgo, trajado com um elegante terno cinza, nem tudo era celebração. Afinal, sob os ombros dos atletas estava a responsabilidade de eternizar a inauguração do estádio com gols, bom futebol e, sobretudo, vitória.
O árbitro paraguaio Carlos Amarilla trilou o seu apito Fifa às 22h39. Com um minuto de jogo, a primeira falta, sobre Elano, no campo de defesa. O carrinho do alemão escancarou a incipiência do gramado. Pelas laterais, o tapete não é tão verde, pois não passou pela costura de grama artificial, e, assim, o barro emergiu em alguns pontos.

Até porque era impossível não ver qualquer detalhe. As 408 lâmpadas de 2000 watts fizeram a noite virar dia na capital gaúcha. Por meio dela, os 60.540 tricolores viram Marcelo Grohe fazer a primeira defesa da nova casa, aos cinco minutos, em tiro fraco do letão Rudneves. Porém, nem com a luz mais tecnológica do universo, o goleiro Drobny poderia chegar perto do torpedo de Leandro. Aos seis minutos, saía do pé direito do garoto, substituto do astro Kleber Gladiador, lesionado, a chance mais clara, em bola que explodiu no travessão.
André Lima, o Guerreiro do Gol Imortal
As redes da Arena, as mesmas do Olímpico e que chegaram via caminhão, seriam finalmente atingidas aos nove minutos. Escanteio cobrado por Elano, na primeira trave. André Lima, alternativa ao também lesionado Marcelo Moreno, surgiu como um raio, antecipou-se aos aturdidos alemães e testou com força. A bola roçou a rede do Setor Norte, em frente à Geral, às 22h48m do sábado, 8 de dezembro de 2012. O 14º gol de André Lima na temporada. De longe, o mais marcante. Porque já é história. Porque já é para sempre.
As cadeiras, impecáveis, confortáveis, azuis, coitadas, foram completamente esquecidas. Afinal, o gol dispensa conforto, acomodação, pernas cruzadas. O gol pede saltos, abraços, urros. Choro. A Arena e sua acústica diferenciada fizeram do cabeceio perfeito de André Lima uma manifestação concreta da loucura, sempre elogiada por Erasmo de Rotterdam.
Mas o limite entre insanidade e razão é tênue, fio de navalha. Tanto que, em meio ao bolo de jogadores formado sobre o seu corpo, André Lima teve a frieza e a boa memória para devolver a provocação do goleiro Renan, após o Gre-Nal de encerramento do Olímpico, no domingo passado. Assim, o Guerreiro Imortal virou mito para os fãs. Além do gol mágico, imitou a bizarra dança de Kidiaba, goleiro-símbolo da eliminação do Inter para o Mazembe, no Mundial de 2010.
- Nem sabia que iria jogar. Fico muito feliz de poder fazer o gol. Não tem provocação. Toma lá, da cá – alegou André Lima.
Geral dá vexame, e Hamburgo cresce

Uma pena que parte da torcida não honrou o esforço de André Lima. Minutos depois, rompeu um foco de confusão na Geral. A mesma que, pouco tempo antes, havia protagonizado bonita festa com a avalanche, resolveu brigar. Os demais fãs esqueceram o jogo para vaiar os gremistas que optaram por trocar socos e chutes em vez de usarem os braços para tremular bandeiras e os pés para pular pelo clube.
Aliás, à exceção da catarse surreal no primeiro gol, a torcida pouco se manifestou. Parecia anestesiada, contemplativa, como se gravar na retina cada azulejo do estádio fosse mais significativo do que acompanhar mais um cruzamento de Pará ou Anderson Pico.
Assim, o Hamburgo, com apenas dois titulares em campo, cresceu. Passou a acumular finalizações. Aogo, provocante lateral-esquerdo, seleção alemã, criou as duas melhores chances. Na primeira, chutou cruzado para Rudnevs errar, livre, na grande área. Depois, já no fim, forçou Grohe a se deitar no tapete da Arena para agarrar firme. André Lima também teve tempo para perder uma grande oportunidade. Sozinho na pequena área, o centroavante furou a conclusão.
Pico e Hamburgo, do Grêmio, na Arena (Foto: Lucas Rizzatti/GLOBOESPORTE.COM)Anderson Pico disputa bola com jogador do Hamburgo (Foto: Lucas Rizzatti/GLOBOESPORTE.COM)
O primeiro tempo se encerrou às 23h25m, com discurso de final de campeonato saindo da boca do zagueiro Werley:

- Jogo difícil. Temos que trabalhar mais a bola. Não adianta ficar correndo atrás dos caras, trem que posicionar.

Bastaram os jogadores deixarem o campo para o sistema de irrigação dar um banho no castigado gramado. No entanto, quem precisava de um jato de água fria eram os torcedores da Geral. Nervosos, promoveram nova briga no intervalo. Desta vez, a polícia entrou rasgando, veloz como um Leandro, severa como um Fernando, segura como um Grohe. A torcida foi junto, vaiando os baderneiros.

Às 23h46, começava o segundo tempo. Luxemburgo mandou a campo cinco novas peças. Marquinhos, no lugar de Elano; Marco Antonio na vaga de Zé Roberto, de excelente etapa inicial e que ainda cedeu a faixa de capitão a Werley; Anderson Pico deu lugar a Tony; Léo Gago entrou na vaga de Fernando e, finalmente, Marcelo Moreno trocou com André Lima.

Mudanças também na inquieta Geral. Após a contundente ação policial, foram retirados os tambores, demais instrumentos musicais e as faixas. Torcedores envolvidos na briga do intervalo também foram detidos e encaminhados para fora do estádio. Até porque a festa era maior do que eles. E precisava continuar.
O segundo tempo começou com o primeiro cartão do Grêmio na Arena. Leandro foi amarelado por falta dura. Antes, na etapa inicial, o meia Ilisevic havia levado a primeira advertência da partida.
Empate frustra a torcida
E o panorama era o mesmo. Hamburgo mais firme no campo de ataque e a torcida pouco efusiva, apenas com lampejos de incentivo. Sem o canto dos fãs, o campo de jogo se transformava. O apito de Amarilla, por exemplo, soava ainda mais forte, parecia trilado no ouvido de cada alma presente. As divididas ganhavam alto volume, dava para ouvir o couro da bola explodindo contra as chuteiras gaúchas e alemãs.
A torcida virou novamente protagonista aos dez minutos. Sagaz, Souza roubou a bola do venezuelano Rincon e a entregou para Moreno. Embalado pelo eco da massa, o centroavante preferiu não arriscar. E aí errou. O passe saiu atrás de Leandro. Um minutos depois, a resposta germânica. Westermann, uma das alterações do técnico Thorsten Fink, arriscou de longe. A bola carimbou a luva direita de Grohe e sumiu na linha de fundo. Aos 13, o terceiro cartão. Tesch quis mostrar que alemão também pode ser malandro. Mas se esqueceu que estava na terra o jeitinho. E se deu mal. Levou amarelo por simulação.
Aos 15, Leandro conseguiu a proeza de ficar em impedimento pela quinta vez na partida. Senha para o esforçado atacante deixar o gramado para o ingresso de Rondinelly. Werley também saiu, Saimon entrou. Aos 25, o insistente Westermann, enfim, acertou. O forte chute ainda desviou em Moreno e vitimou Grohe: 1 a 1. Consequência mais do que natural, uma vez que, nas trocas, o Grêmio encheu o time de reservas, enquanto os alemães fizeram exatamente o contrário.
Bastou a bola passar a linha fatal para a torcida voltar a fazer barulho, incentivando o Grêmio. Mas um urro em especial chamou a atenção. Um torcedor do Hamburgo desfraldou uma faixa de cinco metros com o símbolo do clube e um dizer, ‘Hamburgo, minha pérola’, no meio da Tribuna de Honra, obviamente um espaço completamente tingido de azul. A reação gaúcha, no entanto, foi positiva. Ninguém deu bola. Até porque o foco estava na busca pelo 2 a 1.
Mas estava difícil. O Grêmio se via nitidamente sem força ofensiva. Marquinhos quase marcou, em chute de média distância. Drobny defendeu em dois tempos. O Hamburgo é quem seguia mais insinuante, sempre em investidas velozes pelas pontas. Até Saimon roubar a bola, entregá-la a Marquinhos, que levantou na área. Moreno cumpriu o papel de centroavante e fez jus à profissão de matador. Emendou de esquerda, emocionou a Arena, repetiu o placar de 1983, fez de tudo. Fez história. Assim como o Grêmio e seus torcedores. Bem-vinda, Arena. Pé-quente desde a estreia.

Um comentário:

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