domingo, 15 de julho de 2012

Tcheco fala de sua aposentadoria - ZERO HORA

Aposentado no futebol, Tcheco aceitaria trabalhar no Grêmio: "De olhos fechados" Alvarélio Kurossu/Agencia RBS


O capitão se aposentou. Anderson Simas Luciano, o Tcheco, aos 36 anos, decidiu pendurar as chuteiras. Curiosamente, não entrou em campo em sua última partida, o empate em 1 a 1 entre Coritiba e Palmeiras, na quarta-feira passada, que tornou o clube paulista campeão da Copa do Brasil. Ao apito final do árbitro Sandro Meira Ricci, Tcheco não só sentiu tristeza pela perda do título. Mas também a dor pelo adeus ao futebol. 

Em entrevista exclusiva a Zero Hora, o ex-capitão gremista conta como foram os últimos momentos da carreira de jogador, fala sobre a identificação com a torcida do Grêmio e o momento que julga mais marcante em sua passagem pelo clube. Além disso, diz que foi convidado para assumir uma vaga como auxiliar técnico no Coritiba. E que ficaria honrado em assumir função semelhante no Olímpico.

— Se recebesse um convite do Grêmio, iria de olhos fechados — garante. 
Zero Hora — Contra o Palmeiras, jogaste tua última partida?
Tcheco —
 Eu tinha uma certeza absoluta de parar se a gente fosse campeão. Como não aconteceu o título, conversei com o pessoal sobre a renovação da equipe, quem iria sair. Uma pincelada para saber o que iria acontecer. Até para saber se eu seria útil ou não. Mas como estava pré-estabelecido que eu iria parar, a gente acabou concretizando que eu vou parar mesmo. 

ZH — O que sentiu ao final do jogo?
Tcheco —
 É um sentimento ruim, de tristeza, de que você nunca mais vai fazer aquilo que sempre fez na vida. Porque quando tu muda de emprego, você acha outro e é normal. Mas voltar a jogar dentro dos gramados, não vai voltar mais. É aquele velho ditado. Jogador morre duas vezes: uma quando se aposenta e outra quando acontece a morte natural. É um sentimento de tristeza. Até chorei um pouco depois do jogo por essa parada. Mas conversei com muitos amigos mais chegados e a gente acaba entendendo que é um ciclo da vida. Você acaba aceitando de uma forma mais natural e isso te dá um pouco de alento. 

ZH — Fará um jogo de despedida?
Tcheco —
 O pessoal aqui do Coritiba até deu essa ideia. De ficar treinando para me despedir no jogo entre Grêmio x Coritiba. Não sei se é eu que não valorizo o meu trabalho, mas acho que isso é para um jogador de uma grandeza maior. Não me sentiria bem nessa situação. Esse jogo na Sul-Americana no final do mês eu até poderia ter alguma participação, fazer um encerramento. Mas como se trata de três pontos em disputa, acho que não é o caso. Vou avaliar ainda para saber se faço um jogo de despedida. Mas seja o que for, vou fazer uma coisa como foi a minha carreira: bem simples, que é como eu gosto das coisas. 

ZH — E o próximo passo?
Tcheco —
 Se fosse para eu fazer alguma coisa, prefiro algo mais dentro do campo. Mais para o clube. Não ser treinador. Não de cara, ao menos. A ideia inicial seria de trabalhar como auxiliar técnico do Coritiba, junto ao Edson Borges. Estou conversando com o Felipe Ximenes (coordenador de futebol) e estamos estudando isso. O próprio presidente falou que eu poderia trabalhar na coordenação técnica nas categorias de base. Também seria bom. Como está muito recente, vamos avaliar melhor. Fico feliz porque já recebi o convite. Seria algo até o final do ano para ver como tudo aconteceria. Seria uma espécie de estágio para me adaptar. 

ZH — Trabalharia no Grêmio?
Tcheco —
 É ruim falar sobre hipóteses. Quem não gostaria de trabalhar em um clube grande assim? Mas acho que acima de tudo, para trabalhar em um clube que a gente não está, teria que ter uma preparação, uma aprovação por parte da diretoria e da comissão técnica. Mas como já tenho esse convite do Coritiba, seria mais fácil trabalhar aqui. Mas nunca se sabe, se eu ingressar de vez nessa linha do futebol e recebesse um convite do Grêmio, iria de olhos fechados. 

ZH — Fará cursos, especializações?
Tcheco —
 Vou fazer alguns cursos durante esse trabalho que vou fazer aqui no Coritiba. Já estou lendo alguns livros de profissionais que atuam nesse ramo fora do campo. Até porque o tratamento com os profissionais e com a imprensa é diferente. O último livro que eu li foi "A bola não entra por acaso". Vou começar a me preparar em alguns cursos desse gênero, me aperfeiçoar em uma segunda língua até pela Copa do Mundo que vai ter aqui. 

ZH — Que clube mais te marcou?
Tcheco —
 Não posso dizer que foi um clube só. Tive uma história bonita em ao menos três. No Al-Ittihad (Arábia Saudita), ganhei praticamente tudo em dois anos e meio. Além disso, fui o único estrangeiro a participar das duas conquistas na Liga dos Campeões da Ásia (2004 e 2005). No Grêmio, minha identificação foi muito forte por ser capitão, pelos jogos. Pelo momento do Grêmio, na década que foi. Em relação ao Grêmio, tenho uma identificação muito forte. Hoje, quando encontro alguns torcedores gremistas, consigo ter noção do carinho que eles tem por mim. No Coritiba também, pela história que eu tive. Foi de onde saí do futebol brasileiro e voltei para ajudar a reerguer a equipe na segunda divisão. Também pelos dois vice-campeonatos na Copa do Brasil. Nesses três clubes foram histórias intensas, fortes. São os clubes com os quais tenho mais carinho e mais me identifico.

ZH — E o momento que mais te marcou no Grêmio?
Tcheco —
 Tive vários momentos bacanas. Mas sem sombra de dúvida, foi o último jogo do Brasileirão 2008 contra o Atlético-MG. A gente estava brigando pelo título com o São Paulo e o jogo deles terminou antes do nosso. A torcida estava cantando e aí depois parou. E em seguida todos começaram a bater palmas. Naquele momento, caiu a ficha que tinha acabado o jogo do São Paulo. Mas foi um momento de reconhecimento e dentro do campo vi jogadores do nosso time chorando. Me emocionei na hora. São momentos assim que fazem a gente pegar carinho pelo clube. Mesmo vice-campeão, o outro time comemorando o título e o estádio parar para aplaudir, foi um momento que ficou muito marcado na minha memória. 

ZH — Faltou algo em tua passagem pelo Grêmio?
Tcheco —
 Sem sombra de dúvida que faltou o título de grande expressão. A gente sempre brigava por alguma coisa. Beliscamos a Libertadores e o Brasileirão. É indiscutível que um jogador fica marcado em um clube por conta de títulos. É um fato. Tem o exemplo do Victor, que acabou saindo do Grêmio também. Ele ganhou duas vezes como o melhor goleiro do Brasileirão. Individualmente, fica marcado. Como eu ganhei uma vez um dos prêmios individuais. Mas para o clube, não tem essa valorização. Faltou o título, realmente. Mas uma coisa que eu destaco, é que por menos time que o Grêmio tivesse, a gente sempre estava brigando pelo título. Mas por um motivo ou por outro, acabou não saindo.

ZH — Como percebe o carinho da torcida do Grêmio?
Tcheco —
 Um clube do tamanho do Grêmio, pela falta de títulos que teve na década passada, acabou se identificando muito comigo. Isso que não me considero um ídolo aí. Só me considero um jogador que teve muito carinho e respeito por parte do torcedor por um trabalho árduo que realizei com outros jogadores. Com um time desacreditado que acabou chegando na final da Libertadores em 2007 e que brigou pelo título do Brasileirão em 2008. Pelo momento do Inter, sempre brigando por cada campeonato. Disputei três Gauchões e ganhei dois. Acho que nessa década de vacas magras, acho que me identifiquei muito pela luta em campo. Mas acho que isso é muito pouco pela grandeza do Grêmio. Mas fico feliz por ter sido parte da história do clube.

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